domingo, 18 de outubro de 2009

A história das cidades invisíveis do Brasil

Como funciona a economia subterrânea, que sonega impostos, ignora leis trabalhistas e desafia o Estado.

(...) Sob os tiros dos traficantes do morro Dona Marta, na zona sul carioca, os tubos de água fazem chover até em dia de sol forte na favela, como conta o jornalista Caco Barcellos no livro Abusado. Os chuveirinhos formados pelos projéteis de vários calibres que rompem as tubulações quando há tiroteio fazem a alegria das crianças, mas não só pela água abundante que espalham. Há crianças especializadas no conserto dos chuveirinhos que são remuneradas por traficantes cariocas.
As cidades invisíveis do Brasil movimentam uma economia robusta, a chamada economia subterrânea, que sonega impostos, ignora leis trabalhistas e desafia o Estado. A economia subterrânea também não está restrita a áreas de risco. Jose Luiz Álqueres, presidente da Light, diz que do total de perdas da empresa, 40% estão em área de risco. Os 60% restantes estão em apartamentos e casas da periferia, no comércio e até mesmo em condomínios de luxo. A Light é uma empresa distribuidora de energia que atende o Rio de Janeiro, e o que Álqueres chama de perdas é um eufemismo corporativo para o roubo de energia de outros serviços públicos popularmente conhecidos como “gato”.
Em São Paulo, o “gato hidráulico”, como diz o presidente da Sabesp, Gesner Oliveira, é responsável por algo entre 4% e 6% do total de perdas da empresa. Em 2007, a Sabesp registrou uma perda total de 29,9% de água, e mais da metade disso foi causada pela perda física, ou seja, por vazamentos. “Mas, ainda assim, as perdas com fraudes são grandes, se considerarmos o volume de água desviado”, diz Oliveira. Assim como no Rio, o gato hidráulico paulista não está restrito a áreas mais pobres. “No Réveillon passado, descobrimos uma fábrica de gelo que roubava água, transformava-a em gelo e a vendia, lá na Praia Grande, litoral de São Paulo!”, conta Oliveira.

Causas e conseqüências da economia subterrânea

“A economia subterrânea existe desde a formação do Estado, quando começou a haver a necessidade de tributação, mas só entrou no debate econômico a partir da década de 1970, quando passou a crescer à medida que aumentava o peso dos impostos, das normas, da burocracia e da corrupção”, afirma Vito Tanzi, autor de um estudo pioneiro sobre o tema, que se tornou referência na metodologia de avaliação da economia subterrânea até hoje.

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